A atuação das plantas na melhoria da qualidade do ar é muito difundida, quem nunca ouviu dizer que as florestas são o “pulmão” do mundo? Porém, você sabia que as plantas também possuem a habilidade de despoluir as águas, como um “fígado” que remove as impurezas do nosso corpo?
O conceito de que as plantas capturam o CO2 da atmosfera e melhoram a qualidade do ar, liberando O2 como produto da fotossíntese, é ensinado nas aulas de biologia das escolas. No entanto a interação das plantas com os poluentes presentes na água é ainda mais significativa, pois em suas raízes ocorrem diversos processos físicos, químicos e biológicos que removem as impurezas.
A tecnologia que faz uso da capacidade natural de despoluição resultante da interação entre plantas, microrganismos que vivem nas raízes, substratos e diferentes tipos de contaminantes, é denominada fitorremediação. Consiste basicamente no uso de jardins para remover e reduzir a concentração de poluentes presentes na água e no solo.
Então por que não utilizar as plantas para o tratamento de esgotos domésticos, efluentes industriais e demais águas contaminadas, como rios e lagos?
Os jardins de tratamento foram desenvolvidos para essa finalidade, visando uma solução simples, natural, econômica e de alta eficiência. Por se tratar de uma Solução baseada na Natureza (SbN), os jardins recriam o ambiente natural de maneira otimizada, oferecendo as condições ideais para que ocorram espontaneamente os processos conhecidos da engenharia sanitária: filtragem, degradação biológica aeróbia e anaeróbia, (des)nitrificação, adsorção, sedimentação, volatização e trocas iônicas.
UM BREVE HISTÓRICO
Em nível mundial, o uso de plantas para tratamento de águas poluídas teve início em meados de 1950, pelo Instituto Max Planck, localizado na Alemanha. A descoberta dessa capacidade depuradora das plantas veio da observação dos pântanos, brejos, várzeas e demais zonas úmidas, denominadas wetlands, em inglês.
Dessa forma, a recriação desses ecossistemas em jardins projetados e construídos para atuar como estações de tratamento de esgoto, foram inicialmente chamados de constructed wetlands (CW), em inglês, ou Sistemas de Alagados Construídos (SACs), em português.
Diversas terminologias surgiram a partir de então: sistemas fitorremediadores, wetlands construídos, wetlands de tratamento, jardins filtrantes, jardins de tratamento, zona de raízes, leitos filtrantes plantados, etc.
Entre 1970 e 1980 as pesquisas se intensificaram e os bons resultados difundiram rapidamente os constructed wetlands para os Estados Unidos, Canadá e Europa.
No final de 1990, o Brasil aderiu à tecnologia na conferência “Wetlands Systems for Water Pollution Control”, que ocorreu em Águas de São Pedro/SP, organizado pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) com apoio Secretaria de Recursos Hídricos do Estado de São Paulo e da Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo (SABESP).
OS JARDINS DE TRATAMENTO DE EFLUENTES
A beleza dos jardins com a inteligência da engenharia.
O uso de plantas para despoluição (fitorremediação) é uma solução que pode ser aplicada para o tratamento de esgotos domésticos e efluentes industriais, tanto em estado bruto, substituindo as convencionais ETEs, ou para o polimento, visando atingir as normas reguladoras para reuso, infiltração ou lançamento em corpos hídricos.
Mas como um sistema natural pode tratar poluentes tão diversos?
Para responder essa pergunta, é essencial entender quais são os mecanismos de interação da fitorremediação:
Além dos mecanismos envolvidos diretamente na fitorremediação, as diferentes camadas de substratos dos jardins de tratamento complementam os processos físicos e químicos, funcionando como um filtro mecânico para retenção dos sólidos e como superfície de adsorção de compostos como fósforo, sódio e metais.
AS ETAPAS DO TRATAMENTO POR JARDINS
Os jardins são pequenos ecossistemas que recriam as condições ideais para a ocorrência dos processos acima mencionados, dessa forma são divididos em diferentes estágios, cada um com uma característica de controle do fluxo hidráulico, composição de substratos e vegetação.
A ordem e a combinação entre as tipologias de jardins, são definidas de acordo a caracterização do efluente no desenvolvimento do projeto. De maneira geral, atuam como as conhecidas etapas da engenharia sanitária: tratamento primário, secundário e terciário.
Os jardins tem capacidade de fazer o tratamento completo do esgoto, não há necessidade de pré-tratamento por fossa, biodigestor ou separação de águas cinzas.
TIPOLOGIA 01 | Jardim Vertical de Fluxo Sub-Superficial (JVFSS)
• Fluxo hidráulico vertical abaixo do substrato • Rápida passagem do efluente pelo substrato (filtro) • Microrganismos aeróbios • Vegetação emergente (enraizada) • Tratamento integrado do lodo
TIPOLOGIA 02 | Jardim Horizontal de Fluxo Sub-Superficial (JHFSS)
TIPOLOGIA 03 | Jardim Horizontal de Fluxo Superficial (JHFS)
Veja no vídeo abaixo a composição de um sistema por jardins para tratamento de esgoto sanitário:
A EFICIÊNCIA DO TRATAMENTO
Ao passar pelos jardins de tratamento, a remoção dos poluentes tradicionalmente encontrados no esgoto ocorre com alta eficiência, sendo que, mesmo para parâmetros mais complexos, é possível desenvolver o dimensionamento do projeto para atendimento às exigências normativas em diversas finalidades.
1. REUSO DIRETO NÃO POTÁVEL EM EDIFICAÇÕES – NBR 16783:2019
Lavagem de veículos e pisos, descarga em bacias sanitárias e mictórios, uso ornamental em espelhos d’água e chafarizes, irrigação para fins paisagísticos, manutenção de lagos, sistemas de resfriamento e arrefecimento de telhados:
2. REUSO DIRETO NÃO POTÁVEL PARA FINS URBANOS (SP) – Resolução Conjunta SES/SIMA N° 1/2020
I - irrigação paisagística; II - lavagem de logradouros e outros espaços públicos e privados; III - construção civil; IV - desobstrução de galerias de água pluvial e rede de esgotos; V - lavagem de veículos; VI - combate a incêndio
CLASSE A – Reuso irrestrito não potável, destina-se as modalidades I a VI
CLASSE B – Reuso restrito não potável, destina-se as modalidades I a V
3. LANÇAMENTO EM CORPOS D’ÁGUA – CONAMA Resolução N°430/2011
Efluentes tratados poderão ser lançados de acordo com as condições e padrões estabelecidas na Resolução N°430/2011 e o enquadramento aos padrões de qualidade da água do corpo receptor, conforme especificado na Resolução N° 357/2005.
ENTENDA TODAS AS VANTAGENS
Além da alta eficiência no tratamento, os jardins oferecem vantagens que fazem toda a diferença para quem busca economia, simplicidade e sustentabilidade.
UM SANEAMENTO ALÉM DO BÁSICO
Estamos em uma era de transformação, onde é necessário buscar alternativas para um desenvolvimento responsável, integrando os aspectos ambientais, sociais e econômicos.
A sociedade vem progredindo na maneira de administrar os resíduos, se pararmos para pensar, as primeiras ações do saneamento visam apenas o afastamento do contato humano. A partir da segunda metade do século XX, as iniciativas passaram a considerar o tratamento do esgoto e controle da poluição, mas para isso foram desenvolvidas técnicas muito onerosas, complexas, com dependência de insumos químicos ou equipamentos com alto consumo de energia elétrica. Além disso, o lodo resultante dos tratamentos convencionais ainda é um passivo.
Os jardins de tratamento representam o próximo passo dessa evolução, um sistema com base ecológica, natural, simples e socialmente inclusivo na utilização do espaço, bem-estar e convivência com a natureza.
Vamos dar esse passo por um saneamento além do básico?
ECCLO® SANEAMENTO E PAISAGISMO ECOLÓGICO
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